*Vida Diária*
"Pergunta: Eu não sei o que fazer com a minha vida. Sou puxado para muitas direções diferentes, mas eu nunca consigo ficar com coisa nenhuma. Estou sempre triste e confuso. O que pode me ajudar?"
Thich Nhat Hanh: Às vezes a gente planta rosas utilizando estacas. Sabendo-se que o ramo não tem raízes, colocamos o corte em solo úmido. Se deixarmos o ramo por tempo suficiente no solo rico, úmido, ele se torna estável e cria raízes. Você tem o potencial para se tornar uma linda roseira, mas precisa de um pouco de terra, e precisa também permanecer no solo por tempo suficiente para que as suas raízes cresçam fortes.
Estamos acostumados a ver o sofrimento como algo negativo. Vamos aprender a olhar para o sofrimento como algo positivo. No ensinamento do Buda, o sofrimento é chamado de nobre verdade, e podemos aprender muito com ele. Um ser humano deve ter a capacidade de lidar com o sofrimento e com a felicidade. Os dois sempre andam de mãos dadas, se não há sofrimento, não há felicidade. Todos nós temos uma tendência natural a evitar o sofrimento, e isso não é bom para nós. Sem o sofrimento não podemos crescer como seres humanos, não podemos aprender a ser mais compreensivos e compassivos. É por isso que nós temos que aprender a reconhecer o sofrimento e abraçá-lo. Enquanto você continuar a tentar fugir dele, vai continuar a sofrer.
Muitas pessoas encontram-se na situação de estar sem raízes. Você precisa de um ambiente adequado, o tipo de solo no qual enraizar-se. Uma Sangha, a comunidade de amor de irmãos e irmãs, vai lhe dar o tipo certo de apoio e você poderá estar sozinho muito em breve. Não demorará muito para que o corte se torne uma roseira.
"P. Eu me sinto culpado quando não estou ocupado. Está tudo bem em não fazer nada?"
Thay: Em nossa sociedade, estamos inclinados a ver o não fazer nada como algo negativo, mesmo maligno. Mas quando nos perdemos em atividades, diminuímos a nossa qualidade de ser. Fazemos a nós mesmos um desserviço. É importante nos preservar, para manter o nosso frescor e bom humor, nossa alegria e compaixão. No budismo cultivamos a "ausência de objetivos" e, na verdade, na tradição budista a pessoa ideal, um arhat ou um Bodhisattva, é uma pessoa sem atividades, alguém sem ter para onde ir e nada para fazer.
As pessoas devem aprender a só estarem presentes, sem fazer nada. Tente passar um dia sem fazer nada, nós chamamos isso de "dia de preguiça". Para muitos de nós que estamos acostumados a correr disto para aquilo, um dia de preguiça pode ser realmente um trabalho muito duro! Não é tão fácil apenas ser. Se você pode ser feliz, relaxado e sorrir quando não está fazendo algo, você é bastante forte. Não fazer nada traz a qualidade do ser, o que é muito importante. Então, não fazer nada é realmente algo. Por favor, escreva isso e exiba-o em sua casa: Não fazer nada é alguma coisa.
"P. Meu desejo de conquista levou a muito sofrimento. Não importa o que eu faça, nunca me sinto como se fosse o suficiente. Como posso fazer as pazes comigo mesmo?"
Thay: A qualidade de sua ação depende da qualidade do seu ser. Suponha que você está ansioso para oferecer a felicidade, fazer alguém feliz. Isso é uma boa coisa a fazer. Mas se você não está feliz, então não pode fazer isso. A fim de fazer a outra pessoa feliz, você tem que ser feliz sozinho. Portanto, há uma ligação entre o fazer e o ser. Se você não conseguir ser, não pode ter êxito em fazer. Se você não sentir que está no caminho certo, a felicidade não será possível.
Isto é verdade para todos. Se você não sabe para onde está indo, você sofre. É muito importante perceber o seu caminho e ver a sua verdadeira direção. Felicidade significa sentir que você está no caminho certo a cada momento. Você não precisa chegar ao final do caminho, a fim de ser feliz. O caminho certo refere-se às formas muito concretas de você viver sua vida em todos os momentos.
No budismo, falamos do Nobre Caminho Óctuplo: visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta e concentração correta. É possível viver o Nobre Caminho Óctuplo a cada momento de nossas vidas diárias. Isso não só nos faz felizes, mas também faz as pessoas ao nosso redor felizes. Se você praticar o caminho, se torna muito agradável, com muito frescor e muito compassivo.
Olhe para a árvore no jardim da frente. A árvore não parece estar fazendo nada. Ela fica lá, vigorosa, fresca e bonita e todos lucram. Esse é o milagre de ser. Se uma árvore for menos do que uma árvore, todos nós estaríamos em apuros. Mas, se uma árvore é apenas uma árvore real, então não há esperança e alegria.
Por isso, se você pode ser você mesmo, isso já é ação. A ação é baseada na não-ação, ação é ser. Há pessoas que fazem muito, mas que também causam um monte de problemas. Quanto mais elas tentam ajudar, mais problemas criam, mesmo que tenham as melhores intenções. Elas não são pacíficas, não são felizes. É melhor não tentar tão arduamente, mas apenas "ser".
Então a paz e a compaixão serão possíveis a cada momento. Sobre essa base, tudo o que você diz ou faz só pode ser útil. Se você pode fazer alguém sofrer menos, se pode fazê-lo sorrir, você vai se sentir recompensado e vai receber muita felicidade. Sentir que você é útil, que você é útil para a sociedade: isto é a felicidade.
Quando você tem um caminho e desfruta de cada passo em seu caminho, você já é alguém, não precisa se tornar outra pessoa. No budismo, temos a prática de 'apranihita', ausência de objetivos. Se você colocar um objetivo na sua frente, estará correndo por toda a vida e a felicidade nunca será possível. A felicidade só é possível quando você parar de correr, valorizar o momento presente e quem você é. Você não precisa ser alguém diferente, você já é uma maravilha da vida.
"(Do livro de Thich Nhat Hanh - "Answers from the heart” - Tradução Leonardo Dobbin)"
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