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Saturday, March 28, 2020
Saiu a Modelagem Estatística do Imperial College London para os Cenários do COVID-19 no Brasil
Antes, uma introdução. No começo da pandemia o governo
do Reino Unido havia decidido apostar em uma estratégia de “imunidade de
massa”, que consistia em não tomar medidas restritivas; em vez de parar o país,
deixariam que o vírus infectasse a população de modo que rapidamente as pessoas
pudessem ficar imunizadas.
Porém, o governo do Reino Unido desistiu dessa ideia
quando uma equipe de especialistas epidemiológicos do Imperial College of
London apresentou uma previsão de como se desenrolaria a disseminação do
COVID-19 em diferentes cenários de contenção para o Reino Unido e para os
Estados Unidos. Para elaborar essa previsão, utilizaram dados de contágio,
estatísticas de hospitalização e óbitos vistos em outros países, estudaram como
o vírus se dissemina em diferentes ambientes etc..
Como um breve resumo: se circular livremente, o vírus
tem a capacidade de infectar cerca de 80% da população geral em um período
muito curto. Das pessoas infectadas, cerca de 20% precisam de hospitalização,
5% dos casos são críticos e precisam de UTI e suporte respiratório, e cerca de
metade dos casos críticos vêm a óbito.
No entanto, o súbito aumento de casos ultrapassa a
capacidade do sistema de saúde, gerando colapso, e disso resulta um número
muito maior de mortes — de covid-19, assim como de outras causas — simplesmente
porque não há hospital para tratar todas as pessoas que precisam.
Segundo a previsão, se não houver restrições nos
contatos, no mundo inteiro seriam 7 bilhões de pessoas infectadas com covid-19
e 40 milhões de mortes neste ano.
Os números previstos por esses estudos fizeram com que
governos desistissem das posturas mais relaxadas e tomassem as medidas mais
restritivas para evitar o colapso do sistema de saúde e um número muito maior
de mortes.
Ontem, no dia 26/03/2020, o Imperial College of London
soltou números previstos para os desfechos da pandemia em todos os países, nos
cenários sem intervenção, com mitigação, e com supressão.
Mitigação envolve proteger os idosos (reduzir 60% dos
contatos) e restringir apenas 40% dos contatos do restante da população.
Supressão envolve testar e isolar os casos positivos,
e estabelecer distanciamento social para toda a população.
Supressão precoce – implementada em uma fase em que há
0,2 mortes por 100.000 habitantes por semana e mantida
Supressão tardia – implementada quando há 1,6 mortes
por 100.000 habitantes por semana e mantida.
No Brasil os cenários previstos são os
seguintes:
Cenário 1-
Sem medidas de mitigação:
- População total: 212.559.409
- População infectada: 187.799.806
- Mortes: 1.152.283
- Indivíduos necessitando hospitalização: 6.206.514
- Indivíduos necessitando UTI: 1.527.536
Cenário 2 -
Com distanciamento social de toda a população:
- População infectada: 122.025.818
- Mortes: 627.047
- Indivíduos necessitando hospitalização: 3.496.359
- Indivíduos necessitando UTI: 831.381
Cenário 3 -
Com distanciamento social E REFORÇO do distanciamento dos idosos:
- População infectada: 120.836.850
- Mortes: 529.779
- Indivíduos necessitando hospitalização: 3.222.096
- Indivíduos necessitando UTI: 702.497
Cenário 4 –
Com supressão tardia
- População infectada: 49.599.016
- Mortes: 206.087
- Indivíduos necessitando hospitalização: 1.182.457
- Indivíduos necessitando UTI: 460.361
- Demanda por hospitalização no pico da pandemia:
460.361
- Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia:
97.044
Cenário 5 –
Com supressão precoce
- População infectada: 11.457.197
- Mortes: 44.212
- Indivíduos necessitando hospitalização: 250.182
- Indivíduos necessitando UTI: 57.423
- Demanda por hospitalização no pico da pandemia:
72.398
- Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia:
15.432
Faço algumas observações:
Os próprios autores do estudo comentam que modelaram
essas curvas com base nos padrões de dispersão dos países ricos e que nos
países pobres os resultados da pandemia podem ser piores do que o previsto.
Esses números previstos não levam em conta a existência de favelas, comunidades
sem abastecimento de água e/ou saneamento, entre outros complicadores que temos
no Brasil.
É preciso comentar que os números reais da pandemia no
Brasil, seus casos e óbitos, estarão amplamente subnotificados devido à falta
de testes e demora nos resultados. As estatísticas oficiais publicadas pelo
Ministério da Saúde mostrarão apenas a ponta do iceberg.
Mesmo nos melhores cenários, lentificando a
transmissão e aumentando os recursos do sistema de saúde, deve faltar UTI e
respirador para parte dos doentes.
Em resumo, a diferença entre ficarmos todos em casa
(supressão) ou adotar uma estratégia mais branda de mitigação e proteção apenas
dos grupos de risco pode ser da ordem de MEIO MILHÃO de vidas.
Os diversos relatórios estão disponíveis no site do
Imperial College of London: https://www.imperial.ac.uk/mrc-global-infectious-disease-analysis/news--wuhan-coronavirus/?fbclid=IwAR0GeexFNu6ezOVclPBVW5x3Z3yOn5N1X6siDO5P7ezUOm_UwOUu31RBoAY
Link
para o trabalho “The Global Impact of COVID-19 and Strategies for Mitigation
and Suppression”: https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-College-COVID19-Global-Impact-26-03-2020.pdf
As tabelas com os números oferecidos constam no
apêndice: https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-College-COVID19-Global-unmitigated-mitigated-suppression-scenarios.xlsx
Via Daily Dharma: Forgive Yourself for Failing
Falling
down is what we humans do. If we can acknowledge that fact, judgment
softens and we allow the world to be as it is, forgiving ourselves and
others for our humanity.
—Lin Jensen, “An Ear to the Ground”
—Lin Jensen, “An Ear to the Ground”
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