O MANTRA
O
Mantra é como um sábio que guia nossos pensamentos pelos labirintos da
mente com sua sabedoria. É um canto sagrado que, com sua doce melodia,
se espalha e ressoa dentro de nós, orquestrando as harmonias da alma.
O
Mantra é como uma estrela-guia numa noite escura, iluminando o caminho
quando nossas virtudes parecem desbotadas e distantes. É um músico
celestial que, mesmo quando o mundo parece envolto em silêncio, canta as
notas da verdade e da serenidade.
O
Mantra é um mestre invisível que nos ensina e acompanha até nos
momentos em que acreditamos não ter ninguém para nos guiar. É uma chama
que brilha no coração, aquecendo e iluminando nosso caminho com a luz da
paz interior.
Antes
de o homem descobrir a escrita, o Mantra habitava espontaneamente na
mente do ser humano. Para transmitir os versos sagrados, o homem os
preservava na memória, passando-os de geração em geração. Mas com a
disseminação da escrita, o Mantra começou a sofrer, correndo o risco de
desaparecer. Foi salvo por poucos sábios que descobriram que o Mantra — a
memória gravada em nossa mente — possui uma força e um poder maiores
que a própria escrita.
Gravado na mente, o Mantra atua até mesmo em
silêncio, e quando é recitado, ele descansa. Sim, o descanso é tão
importante quanto a ação: quando o Mantra é entoado, ele descansa;
quando descansa, atua, pois nunca para. Ele não é como a escrita, que,
embora robusta e intacta, desaparece da mente pouco depois de ser lida.
Além de ser recitado em voz alta, uma das maneiras mais eficazes de
fazer o Mantra ressoar é deixá-lo fluir suavemente pela nossa mente
durante a meditação, permitindo que ele flua naturalmente e sem esforço.
Adotar
um mantra não é simplesmente uma escolha, mas uma verdadeira coroação. É
essencial prestar atenção a esse passo, pois há coroas tecidas de luz,
destinadas a guiar a alma para a elevação, e coroas de escuridão, que
envolvem o espírito num oceano de sofrimento. Dependendo de nossas
aspirações e inclinações, devemos escolher o mantra mais adequado para
nós. Idealmente, essa coroação deve ser acompanhada por uma guia sábia.
No entanto, às vezes, a orientação mais valiosa pode ser a nossa busca
interior incessante, que se move incansavelmente em direção à verdade.
Quais
são os mantras que envolvem o espírito num oceano de sofrimento? São
aqueles que repetem: “Eu quero, eu sou”, alimentando o ego e o apego,
amarrando-nos a prazeres sensuais baixos, vulgares e destrutivos. O
Mantra no qual quero me concentrar, tecido de luz, é o do Nobre Caminho
Óctuplo. Esse mantra conduz à visão clara e ao conhecimento, guiando-nos
para a paz interior, a sabedoria, o despertar e a libertação final do
sofrimento.
Este Mantra diz o seguinte:
“Busco
a Visão Correta, o entendimento claro do caminho para a verdade. Desejo
seguir o Caminho que leva à paz interior e à consciência profunda.
Antes que minha mente e meus sentidos se detenham em qualquer detalhe,
esforço-me para ver a realidade em sua totalidade, sem distorção e sem
apego, para abandonar a fraqueza e a ignorância e cultivar a sabedoria.
Busco
o Pensamento Correto, pois dele nasce tudo o que se segue. É a fonte
das palavras que falo, a origem das ações que tomo, e, como um oleiro
que molda o barro, molda o meu ser e interage de maneira sutil com o
mundo ao meu redor. Esforço-me para garantir que meu pensamento esteja
enraizado no essencial e na não-malevolência. Comprometo-me a deixar de
lado os pensamentos egoístas, a abandonar a raiva e o ódio, e a nutrir
pensamentos de paz.
Busco
a Palavra Correta, porque a palavra não é apenas o espelho que reflete
nosso pensamento e revela nossas intenções mais profundas, mas também é a
vestimenta que nos cobre. A palavra é tão afiada quanto uma espada e
tão poderosa quanto um criador; pode acariciar suavemente ou pesar como
uma condenação. Mas escolho a palavra correta, a que cura e une, a que
espalha compreensão e amor, a que não fere nem engana, mas sustenta a
verdade.
Busco
a Ação Correta, sabendo que o Pensamento Correto concebe, mas é a Ação
Correta que torna visíveis os frutos do nosso caminho. É a manifestação
mais tangível da nossa existência. A Ação Correta é como um escultor
que, golpe a golpe, esculpe o mármore bruto numa figura perfeita. É como
um jardineiro que poda cada ramo com precisão para que a planta cresça
exuberante. Sem a Ação Correta, seríamos como viajantes numa floresta
escura, incapazes de encontrar um caminho para fora das sombras.
Busco
o Meio de Vida Correto, sabendo que só devo ganhar o que é suficiente.
Se buscasse mais do que preciso, roubaria tempo e atenção do que
realmente importa. O Meio de Vida Correto é equilíbrio: o trabalho e os
meios de sustento não devem ser um fardo, mas uma ferramenta para apoiar
uma vida virtuosa. Não busco ganhos baseados no engano ou no prejuízo
dos outros. Envolvo-me em atividades que trazem benefício e não criam
sofrimento nem para mim nem para os outros.
Busco
o Esforço Correto, reconhecendo que a Atenção Plena tem prioridade
absoluta, como a pegada de um elefante que, devido ao seu tamanho,
ofusca todas as outras pegadas. Se a atenção plena é o mais importante, o
Esforço Correto é o que sustenta cada prática virtuosa. Esforço-me para
cultivar a Visão Correta, para manter o Pensamento Correto, e não me
deixar levar pelos acontecimentos, de modo que cada pensamento, palavra e
ação seja guiado por uma intenção desinteressada.”
Busco
a Atenção Correta, que se manifesta como uma presença mental constante e
atenta, uma guardiã silenciosa que observa cada passo do nosso caminho.
Observa cada ação que tomamos, cada sensação que sentimos, cada
pensamento que cruza a nossa mente e cada palavra que pronunciamos,
juntamente com o tom em que a expressamos. Até mesmo observa a nossa
respiração. A Atenção Correta não julga, nem age como um filtro que
separa, mas é como um rio que deixa tudo fluir, sem se apegar a nada.
Cada momento é recebido em sua totalidade e vivido ao máximo, sem que
nada escape à sua atenção.
Busco
a Concentração Correta, varrendo a sonolência e a letargia, impedindo a
mente de se dispersar. Busco essa concentração que, como um arqueiro
que tensiona seu arco, foca cada energia com precisão absoluta em
direção ao alvo. Minha mente, como a visão de um falcão voando alto,
permanece afiada e vigilante. Não vagueia nem se perde em desejos
inúteis ou preocupações. Com a Concentração Correta, a mente se torna
tão clara quanto o cristal, pronta para despertar para a verdade
última.”
Se
eu escolho recitar este Mantra do Nobre Caminho Óctuplo de forma mais
concisa, recito-o assim: Visão Correta, Pensamento Correto, Palavra
Correta, Ação Correta, Meio de Vida Correto, Esforço Correto, Atenção
Correta, Concentração Correta.
E
quando desejo evocar este Mantra mais rapidamente, só preciso pensar na
forma de uma roda de oito raios: a Roda do Dhamma, posta em movimento
pelo Sublime Gotama, que representa todo o ensinamento do Buda,
preservado no Cânone Pali. Cada raio simboliza um aspecto do Nobre
Caminho Óctuplo. Cada vez que visualizo esta roda, mesmo em minha mente,
num instante, a Visão Correta dos ensinamentos do Sublime me é
revelada, viva e luminosa.